Esta história que aqui fica já a conheço há vários anos. Embora com nomes trocados, foi publicada, parcialmente no (defunto?) "Para mim tanto faz".
E mais uma vez, em período pré-eleitoral, volta a falar-se de "Camarate"... Comissão de "inquérito", pois então. Repetindo generalidades que não fazem sentido... que NADA permitem concluir. Deve ser para que o assunto possa voltar a ser referido nas vésperas de futuras eleições. Camarate é, para o PSD, o que as prisões da PIDE e o Tarrafal são para o Partido Comunista: uma carpideirice para nos comover... nunca entendi bem com que lógica. Vitimização???
Vejamos então quem é VÍTIMA de QUEM
Por isso deixo aqui a pergunta:
CAMARATE é isto aqui em baixo?
Ou é ISTO?
O que vos parece? Vale a pena ler 2 vezes, pelo menos.
«»«»«»«»«»««» .............. «»«»«»«»«»«»
Eu, Fernando Farinha Simões, decidi finalmente, em
2011, contar toda a verdade sobre Camarate. No passado nunca contei toda a
operação de Camarate, pois estando a correr o processo judicial, poderia ser
preso e condenado. Também porque durante 25 anos não podia falar, por estar
obrigado ao sigilo por parte da CIA, mas esta situação mudou agora, ao que
acresce o facto da CIA me ter abandonado completamente desde 1989. Finalmente
decidi falar por obrigação de consciência.
Fiz o meu
primeiro depoimento sobre Camarate, na Comissão de Inquérito Parlamentar, em
1995. Mais tarde prestei alguns depoimentos em que fui acrescentando factos e
informações. Cheguei a prestar declarações para um programa da SIC, organizado
por Emídio Rangel, que não chegou contudo a ir para o ar. Em todas essas
declarações públicas contei factos sobre o atentado de Camarate, que nunca
foram desmentidos, apesar dos nomes que citei e da gravidade dos factos que
referi. Em todos esses relatos, eu desmenti a tese oficial do acidente, defendida
pela Polícia Judiciária e pela Procuradoria Geral da República. Numa tive
dúvidas de que as Comissões de Inquérito Parlamentares estavam no caminho
certo, pois Camarate foi um atentado. Devo também dizer que tendo eu falado de
factos sobre Camarate tão graves e do envolvimento de certas pessoas nesses
factos, sempre me surpreendeu que essas pessoas tenham preferido o silêncio.
Estão neste caso o Tenente Coronel Lencastre Bernardo ou o Major Canto e
Castro. Se se sentissem ofendidos pelas minhas declarações, teria sido lógico
que tivessem reagido. Quanto a mim, este seu silêncio só pode significar que,
tendo noção do que fizeram, consideraram que quanto menos se falar no assunto,
melhor.
Nessas
declarações que fiz, desde 1995, fui relatando, sucessivamente, apenas parte
dos factos ocorridos, sem nunca ter feito a narração completa dos
acontecimentos. Estávamos ainda relativamente próximos dos acontecimentos e não
quis, portanto, revelar todos os pormenores nem todas as pessoas envolvidas
nesta operação. Contudo, após terem passado mais de 30 anos sobre os factos,
entendi que todos os portugueses tinham o direito de conhecer o que
verdadeiramente sucedeu em Camarate. Não quero deixar de referir que hoje estou
profundamente arrependido de ter participado nesta operação, não apenas pelas
pessoas que aí morreram, e cuja qualidade humana só mais tarde tive ocasião de
conhecer, como do prejuízo que constituiu, para o futuro do país, o
desaparecimento dessas pessoas. Naquela altura contudo, camarate era apenas
mais uma operação em que participava, pelo que não medi as consequências. Peço
por isso desculpa aos familiares das vítimas, e aos Portugueses em geral, pelas
consequências da operação em que participei.
Gostaria
assim de voltar atrás no tempo, para explicar como acabei por me envolver nesta
operação. Em 1974 conheci, na África do Sul, a agente dupla alemã, Uta Gerveck,
que trabalhava para a BND (Bundesnachristendienst) – Serviços de Inteligência
Alemães Ocidentais, e ao mesmo tempo para a Stassi. A cobertura legal de Uta
Gerveck é feita atravez do conselho mundial das Igrejas (uma espécie de ONG), e
é através dessa fachada que viaja praticamente pelo Mundo todo, trabalhando ao
mesmo tempo para a BND e para a Stassi. Fez um livro em alemão que me dedicou,
e que ainda tenho, sobre a luta de liberdade do PAIGC na Guiné Bissau. O meu
trabalho com a Stassi veio contudo a verificar-se posteriormente, quando estava
já a trabalhar para a CIA. A minha infiltração na Stassi dá-se por convite da
Uta Gerveck, em l976, com a concordância da CIA, pois isso interessava-lhes
muito.
Úta Gerveck apresenta-me, em 1978, em Berlim Leste, a Marcus Wolf, então Director da Stassi. Fui para esse efeito então clandestinamente a Berlim Leste, com um passaporte espanhol, que me foi fornecido por Úta Gerveck. 0 meu trabalho de infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados acerta das “toupeiras” infiltradas na Alemanha Ocidental pela Stassi. Que actuavam nomeadamente junto de Helmut Khol, Helmut Schmidt e de Hans Jurgen Wischewski. Hans Jurgen Wischewski era o responsável pelas relações e contactos entre a Alemanha Ocidental e de Leste, sendo Presidente da Associação Alemã de Coopenção e Desenvolvimento (ajuda ao terceiro Mundo), e também ia às reuniões do Grupo Bilderberg. Viabilizou também muitas operações clandestinas, nos anos 70 e 80, de ajuda a gupos de libertação, a partir da Alemanha Ocidental. Estive também na Academia da Stassi, várias vezes, em Postdan – Eiche.
Úta Gerveck apresenta-me, em 1978, em Berlim Leste, a Marcus Wolf, então Director da Stassi. Fui para esse efeito então clandestinamente a Berlim Leste, com um passaporte espanhol, que me foi fornecido por Úta Gerveck. 0 meu trabalho de infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados acerta das “toupeiras” infiltradas na Alemanha Ocidental pela Stassi. Que actuavam nomeadamente junto de Helmut Khol, Helmut Schmidt e de Hans Jurgen Wischewski. Hans Jurgen Wischewski era o responsável pelas relações e contactos entre a Alemanha Ocidental e de Leste, sendo Presidente da Associação Alemã de Coopenção e Desenvolvimento (ajuda ao terceiro Mundo), e também ia às reuniões do Grupo Bilderberg. Viabilizou também muitas operações clandestinas, nos anos 70 e 80, de ajuda a gupos de libertação, a partir da Alemanha Ocidental. Estive também na Academia da Stassi, várias vezes, em Postdan – Eiche.
Relativamente
ao relato dos factos, gostaria de começar por referir que tinha contactos,
desde 1970, em Angola, com um agente da CIA, o jornalista e apresentador de
televisão Paulo Cardoso (já falecido). Conheci Paulo Cardoso em Angola com quem
trabalhei na TVA – Televisão de Angola na altura.
Em 1975,
formei em Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez, Carlos Miranda e
Jorge Gago (já falecido). Esta organização pretendia, defender, em Portugal, se
necessário por via de guerrilha, os valores do Mundo Ocidental.
Através de
Paulo Cardoso sou apresentado, em 1975, no Hotel Sheraton, em Lisboa, a um
agente da CIA, antena, (recolha de informações), chamado Philip Snell. Falei
então durante algum tempo com Philip Snell. O Paulo Cardoso estava então a
viver no Hotel Sheraton. Passados poucos dias, Philip Snell, diz-me para ir
levantar, gratuitamente, um bilhete de avião, de Lisboa para Londres, a uma
agência de viagens na Av. de Ceuta, que trabalhava para a embaixada dos EUA.
Fui então a uma reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary Van
Dyk, da África do Sul, que colaborava com a CIA. Fui então entrevistado pelo
chefe da estação da CIA para a Europa, que se chamava John Logan. Gary Van Dyk,
defendeu nessa reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me conhecia bem
de Angola, e que eu trabalhava com eficiência. Comecei então a trabalhar para a
CIA, tendo também para esse efeito pesado o facto de ter anteriormente
colaborado com a NISS – National Intelligence Security Service ( Agência Sul
Africana de Informações). Gary Van Dyk era o antena, em Londres, do DONS –
Department Operational of National Security ( Sul Africana ).
Regressando
a Lisboa, trabalhei para a Embaixada dos EUA, em Lisboa entre 1975 e 1988, a
tempo inteiro. Entre 1976 e 1977, durante cerca de uma ano e meio vivi numa
suite no Hotel Sheraton, o que pode ser comprovado, tudo pago pela Embaixada
dos EUA. Conduzia então um carro com matrícula diplomática, um Ford, que
estacionava na garagem do Hotel. Nesta suite viveu também a minha mulher, Elsa,
já grávida da minha filha Eliana. O meu trabalho incluia recolha de informações
/contra informações, informações sobre tráfico de armas, de operações de
combate ao tráfico de droga, informações sobre terrorismo, recrutamento de
informadores, etc. Estas actividades incluem contactos com serviços secretos de
outros países, como a Stassi, a Mossad, e a “Boss” (Sul Africana), depois NISS
– National Information Sectret Service, depois DONS e actualmete SASS.
Era pago em
Portugal, recebendo cerca de USD 5.000 por mês. Nestas actividades facilita o
facto de eu falar seis línguas. Actuei utilizando vários nomes diferente, com
passaportes fornecidos pela Embaixada dos EUA em Lisboa. Facilitava também o
facto de eu falar um dialecto angolano, o kimbundo.
A Embaixada
dos EUA tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha, que me estava
entregue, e onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos, que
passavam por Portugal. Era a vivenda “Alpendrada”.
A partir de
1975, como referi, passei a trabalhar directamente para a CIA. Contudo a
partir de 1978, passei a trabalhar como agente encoberto, No chamado “Office
of Special Operations“, a que se chamava serviços clandestinos, e que visavam
observar um alvo, incluindo perseguir, conhecer e eliminar o alvo, em qualquer
país do mundo, excepto nos EUA. Por pertencermos a este Office, éramos obrigados
a assinar uma clausula que se chamava “plausible denial” que
significa que se fossemos apanhados nestas operações com documentos de
identificação falsos, a situação seria por nossa conta e risco, e a CIA nada
teria a ver com a situação. Nessa circunstância tínhamos o discurso
preparado para explicar o que estavamos a fazer, incluindo estarmos preparados
para aguentar a tortura.
Trabalhei para o “Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da CIA.
Trabalhei para o “Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da CIA.
Para fazer
face a estes trabalhos e operações, as minhas contas dos cartões de crédito do
VISA, American Express e Dinners Club, tinham, cada uma, um plafond de 10.000
USD, que podiam ser movimentados em caso de necessidade. Estes cartões eram
emitidos no Brasil, em bancos estrangeiros sedeados no Brasil, como o Citibank,
o Bank of Boston ou o Bank of America. Entre 1975 e 1989, portanto durante
cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões de USD,
em operações em diversos países, nomeadamente pagando a informadores,
políticos, militares, homens de negócios, e também traficantes de
armas e de drogas, em ligação com a DEA (Drug Enforcement Agency),
Existiram outros valores movimentados à parte, a partir de um saco azul, “em cash”,
valores esses postos à disposição pelo chefe da estação da CIA,
no local onde as operações eram realizadas. Este saco azul servia para pagar
despesas como viagens, compras necessárias, etc.
Posso
referir que a operação de Camarate, que a seguir irei descrever, custou
a preços de 1980 entre 750.000 e 1 milhão de USD. Só o Sr, José
António dos Santos Esteves recebeu 200.000 USD. Estas despesas
relacionadas com a operação de Camarate, incluíram os pagamentos a
diversas pessoas e participantes, como o Sr. Lee Rodrigues, como
seguidamente irei descrever.
Entre 1975 e
1988, participei em vários cursos e seminários em Langley, Virginia e
Quantico, pago pela CIA, sobre informação, desinformação,
contra-informação. terrorismo, contra-terrorismo, infiltrações encobertas,
etc, etc.
Trabalhei em
serviços de infiltração pela CIA e pela DEA (Drug Enforcement Agency), em
diferentes países, como Portugal, El Salvador, Bolívia, Colômbia,Venezuela,
Peru, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Chile, Líbano,
Síria, Egipto, Argélia, Marrocos, Filipinas.
A minha
colaboração com a DEA, iniciou-se em 1981, através de Richard Lee Armitage.
Em 1980,
Richard Armitage viria também a estar comigo e com o Henry Kissinger em Paris, Richard Lee Armitage era membro
do CFR (Counceil for Foreign Affairs and Relations) e da
Organização e Cooperação para a Segurança da Europa (OSCE), criada
pela CIA, Richard Armitage era também membro, na altura, do Grupo
Carlyle, do qual o CEO era Frank Carlucci. O Grupo Carlyle
dedica-se à construcção civil, imobiliário e é um dos maiores
grupos de tráfico de armas no Mundo, junto com o Grupo Haliburton, chefiado
por Richard “Dick” Cheney. O Grupo Carlyle pertence a vários investidores
privados dos EUA, por regra do Partido Republicano. Este grupo
promove nomeadamente vendas de armas, petróleo e cimento para países
como o Iraque, Afeganistão e agora para os países da primavera árabe.
A lavagem do
dinheiro do tráfico de armas e da droga, era feito, na altura, pelo Banco BCCI,
ligado à CIA e à NSA – National Security Agency. O BCCI foi
fundado em 1972 e fechado no princípio dos anos 90, devido aos diversos
escândalos em que esteve envolvido.
Oliver North pertencia ao Conselho
Nacional de Segurança, às ordens de William Walker, ex-embaixador
dos EUA em El Salvador. Oliver North seguiu e segue sempre as ordens da
CIA, dependente de William Casey. Oliver North está hoje retirado
da CIA , e é CEO de vários grupos privados americanos, tal como Frank
Carlucci.
Da DEA
conheci Celerino Castilho, Mike Levine, Anabelle Grimm e Brad
Ayers, tendo trabalhado para a DEA entre 1975 até 1989. Da
CIA trabalhei também com Tosh Plumbey, Ralph Megehee – tenente
coronel da NSA, actualmente reformado. Da CIA trabalhei ainda com Bo
Gritz e Tatum. Estes dois agentes tinham a sua base de operações
em El Salvador, (onde eu também estive durante os anos 80, durante o
tráfico Irão – Contras), desenvolvendo nomeadamente actividades
com tráfico de armas. Uma das suas operações consistiu no transporte
de armas dos EUA para El-Salvador, que eram depois transportadas para
o Irão e a Nicarágua. Os aviões, normalmente panamianos
e colombianos regressavam depois para os EUA com droga,
nomeadamente cocaína, proveniente de países como a Colômbia, Bolivia
e El Salvador, que serviam para financiar a compra de armas. Esta
actividade desenvolveu-se essencialmente desde os finais dos anos 70 até
1988.
A cocaína
vinha
nomeadamente da Ilha Normans Cay, nas Bahamas, de que era
proprietário Carlos Lheder Rivas. Carlos Rivas era um dos chefes do
Cartel de Medellin, trabalhando para este cartel e para ele próprio. Carlos
Rivas era, neste contexto um personagem importante, sendo o braço
direito de Roberto Vesco, que trabalhava para a CIA e para a NSA.
Roberto Vesco era proprietário de Bancos nas Bahamas,
nomeadamente o colombus trust. Carlos rivas fazia toda a logística de
Roberto Vesco e forneciam armas a troco de cocaína, nomeadamente ao movimento
de guerrilha Colombiano M19. Roberto Vesco está hoje refugiado em Cuba.
O dinheiro
das operações de armas e de droga são lavadas no Banco BCCI e noutros bancos, com o nome
de código “Amadeus“. Há no entanto contas activas nas Bahamas
e em Norman’s Cay, nas Ilhas Jersey, que gerem contas
bancárias, nomeadamente para o tráfico de armas para os “Contras”
da Nicarágua, e para o Irão.
Como acima
referi, muito desse dinheiro foi para bancos americanos e franceses, o
que em parte explicará porquê é que Manuel Noriega foi condenado a 60 anos
de prisão, tendo primeiro estado preso nos EUA, depois em França,
e actualmente no Panamá. Foi preso porque era conveniente que
estivesse calado, não referindo nomeadamente que partilhava com a
CIA, o dinheiro proveniente da venda de armas e da venda de drogas. Noriega
movimentava contas bancárias em mais de 120 bancos, com conhecimento da
CIA. Noriega fazia também parte da operação Black
Eagle, dedicada ao tráfico de armas e de droga, que em 1982 se
transformou numa empresa chamada Enterprise, com a colaboração de
Oliver North e de Donald Gregg da CIA. Em face do grau de
informações e de conhecimento que tinha, é fácil de perceber porquê se
verificou o derrube e a prisão de Noriega. Devo dizer que estou
pessoalmente admirado que não o tenham até agora “suicidado“, pois deve
ter muitos documentos ainda guardados. Noriega tinha a intenção de contar
tudo o que sabia sobre este tráfico, nomeadamente sobre os serviços
prestados à CIA e a Bush Pai, tendo por isso sido preso. Washington
e a CIA são assim veículos importantes do tráfico de armas e de droga,
utilizando nomeadamente os pontos de apoio de South Flórida e do Panamá.
No início
dos anos 80 conheci um traficante do cartel de Cali, de nome Ramon
Milian Rodriguez, que depois mais tarde perante uma comissão do Senado
Americano, onde falou do tráfico de armas e de droga,
do branqueamento de dinheiro, bem como das cumplicidades de Oliver
North neste tráfico às ordens de Bush Pai e do Donald Gregg.
Muito do
dinheiro gerado nessas vendas foi para bancos americanos e franceses. Este dinheiro servia também
para compras de propriedades imobiliárias. Por estar ligado a estas
operações, Noriega foi preso pelos EUA.
Foi numa
operação de droga que realizei na Colômbia e nas Bahamas, em 1984, onde se deu
a prisão de Carlos Lheder Rivas, do Cartel de Medallin, em que eu não concordei
com os agentes da DEA da estação de Maiami, pois eles queriam ficar com 10
milões de dólars e com o avião “lear-jet” provenientes do tráfico de droga. Não concordando, participei
desses agentes ao chefe da estação da DEA de Maiami. Este chefe mandou-lhes
então levantar um inquerito, tendo sido presos pela própria DEA. A partir de aí
a minha vida tornou-se num verdadeiro inferno, nomeadamente com a
realização de armadilhas, e detenções, tendo acabado por sair da CIA em
1989, a conselho de Frank Carlucci. O principal culpado da minha
saida da CIA foi e da DEA foi John C. Lawn, director da estação
da DEA e amigo de Noriega e de outros traficantes. John Lawn
encobriu, ou tentou encobrir, todos os agentes da DEA que denunciei aquando da
prisão de Carlos Rivas. Ápos a minha saida da CIA, Frank carlucci continuou
contudo a ajudar-me com dinheiro, com conselhos e com apoio
logístico, sempre que eu precisei até 1994.
Regressando
contudo à minha actividade em Portugal, anteriormente a camarate e ao
serviço da CIA, devo referir que conheci Frank Carlucci, em 1975,
atravez de duas pessoas: um jornalista Português da RTP, já falecido,
chamado Paulo Cardoso de Oliveira, que conhecera em Angola, e que era agente
da CIA, e Gary Van Dyk, agente da BOSS (Sul Africana) que
conheci também em Angola. Mantive contactos directos
frequentes com Frank Carlucci, sobretudo entre l975 e 1982, de quem
recebi instruções para vários trabalhos e operações. Os meus contactos
com Frank Carlucci mantêm-se até hoje, com quem falo ainda
ocasionalmente pelo telefone. A última vez que estive com ele foi em
Madrid, em 2008, na escala de uma viagem que Frank Carlucci realizou à
Turquia.
Em Lisboa,
também lidei e recebi ordens de William Hasselberg – antena da CIA em Lisboa,
que além de recolher informacões em Lisboa actua como elo de ligação
entre portugueses e americanos. Tive inclusivamente uma vida social com
William Hasselberg, que inclui uma vida nocturna em Lisboa, em
diferentes bares, restaurantes, e locais públicos. William Hasselberg
gostava bastante da vida nocturna, onde tinha muito gosto em aparecer
com as suas diversas “conquistas” femininas. Trabalhei também com outros
agentes da CIA, nomeadamente Philip Agee. Neste ambito, trabalhei
em operações de tráfico de armas, e em infiltrações em organizações
com o objectivo de obter informações políticas e militares, “Billie”
Hasselberg fala bem português, e era grande amigo de Artur Albarran,
Hasselberg e Albarran conheceram-se numa festa da embaixada da Colômbia
ou Venezuela, tendo Albarran casado nessa altura, nos anos 80, com a
filha do embaixador, que foi a sua primeira mulher.
Das reuniões
que tive com a embaixada americana em Lisboa, a partir de 1978, conheci vários agentes da CIA.
O Chefe da estação da CIA em Portugal, John Logan, oferece-me um
livro seu autografado. Conheci também o segundo chefe da CIA, Sr. Philip
Snell, Sr. James Lowell, e o Sr. Arredondo. Da parte
militar da CIA conheci o cor Wilkinson, a partir de quem
conheci o coronel Oliver North e o coronel Peter Bleckley. O coronel
Oliver North, militar mas também agente da CIA e o coronel
Peter Bleckley, são os principais estrategas nos contactos
internacionais, com vista ao tráfico e venda de armas, nomeadamente com
países como Irão, Iraque, Nicarágua, e o El
Salvador. Na sequência do conhecimento que fiz com Oliver North ,
tendo várias reuniões com ele e com agentes da CIA, por causa do tráfico e
negócio de armas. Estas reuniões têm lugar em vários países, como os
EUA, o México, a Nicarágua, a Venezuela, o Panamá.
Neste último país contacto com dois dos principais adjuntos de
Noriega, José Bladon, chefe dos serviços secretos do Panamá, que me
disse que práticamente todos os embaixadores do Panamá em todo o Mundo
estavam ao serviço de Noriega.
Blandon pediu-me na altura se eu arranjava um Rolls Royce Silver Spirits, para o embaixador do Panamá em Lisboa, o que acabei por conseguir.
Blandon pediu-me na altura se eu arranjava um Rolls Royce Silver Spirits, para o embaixador do Panamá em Lisboa, o que acabei por conseguir.
Em meados de
1980, Frank Carlucci refere-me, por alto, e pela primeira vez,
que eu iria ser encarregue de fazer um “trabalho” de importância
máxima e prioritária em Portugal, com a ajuda dele, da CIA, e da
Embaixada dos EUA em Portugal, sendo-me dado, para esse efeito, todo o
apoio necessário.
Tenho depois
reuniões em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, que conheço pela primeira vez. Frank
Sturgies é uma pessoa de aspecto sinistro e com grande frieza, e é organizador
das forças anti-castristas, sediadas em Miami, e é elo de ligação
com os “contra” da Nicarágua. Frank Sturgies refere-me então, que está
em marcha um plano para afastar, definitivamente, (entenda-se
eliminar) uma pessoa importante, ligada ao Governo Português
de então, sem dizer contudo ainda nomes.
Algum tempo
depois, possívelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo ténis com
Frank Cariucci quase toda a tarde, na antiga residência do embaixador
dos EUA, na Lapa. Janto depois com ele, onde Frank Cartucci
refere novamente que existem problemas em Portugal para a venda e
transporte de armas, e que Francisco Sá Carneiro não era uma pessoa
querida dos EUA. Depois já na sobremesa, juntam-se a nós o General Diogo
Neto, o Coronel Vinhas, o Coronel Robocho Vaz e Paulo
Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se afastarem alguns
obstáculos existentes ao negócio de armas. Todos estes elementos referem
a Frank Caducci que eu sou a pessoa indicada para a preparação e implementação
desta operação.
Em Outubro
de 1980, num jantar no Hotel Sharaton onde participo eu, Frank
Sturgies (CIA), Vilfred Navarro (CIA), o General
Diogo Neto e o Coronel Vinhas (já falecidos), onde se refere que há
entraves ao tráfico de armas que têm de ser removidos. Depois há um
outro jatar também no Hotel Sharaton, onde participam, entre outros,
eu e o Coronel Oliver North, onde este diz claramente que “é preciso limar
algumas arestas” e “se houver necessidade de se tirar aguém do caminho,
tira-se“, dando portanto a entender que haverá que eliminar pessoas que
criam problemas aos negócios de venda de armas. Oliver North diz-me
também que está a ter problemas com a sua própria organização, e que
teme que o possam querer afastar e “deixar cair”, o que acabou por acontecer.
Há também Portugueses
que estavam a benificiar com o tráfico de armas, como o Major Canto e
Castro, o General Pezarat Correia, Franco Charais e o empresário
Zoio. Sabe-se também já nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a
tentar acabar com o tráfico de armas, a investigar o fundo de
desenvolvimento do Ultramar, e a tentar acabar acabar com lobbies
instalados. Afastar essas duas pessoas pela via política era impossível,
pois a AD tinha ganho as eleições. Restava portanto a via de um atentado.
Passados
alguns dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente
ao conselho da revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo
para eu me encontrar com ele no Hotel Altis. Nessa reunião está também
Frank Sturgies, e fala-se pela primeira vez em “atentado“, sem se
referirem ainda quem é o alvo. referem que contam comigo para esta operação.
O Major Canto e Castro diz que é preciso recrutar alguém capaz de realizar
esta operação.
Tenho depois
uma segunda reunião no Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell,
onde Frank Sturgies me encarrega de preparar e arranjar alguns operacionais
para uma possível operação dentro de pouco tempo, possívelmente dentro de 2
ou 3 meses. Perguntam-me se já recrutou a pessoa certa para realizar este
atentado, e se eu conheço algum perito na fabricação de bombas e em armas de
fogo. Respondo que em Espanha arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer
o atentado, se tal fosse necessário. Quem paga a operação e a preparação
do atentado é a Cia e o Major Canto e Castro. Canto e Castro colabora na
altura com os serviços Secretos Franceses, para onde entrou através do
sogro na época. O sogro era de Nacionalidade Belga, que trabalhava para a SDEC,
os serviços de inteligência franceses, em 1979 e 1980. Canto e Castro casou com
uma das suas filhas, quando estava em Luanda, em Angola, ao serviço da Força
Aérea Portuguesa. Em Luanda, Canto e Castro vivia perto de mim.
Tendo que
organizar esta operação, falo então com José Esteves e mais tarde com Lee
Rodrigues ( que na
altura ainda não conhecia). O elo de ligação de Lee Rodrigues em Lisboa era
Evo Fernandes, que estava ligado à resistância moçambicana, a renamo.
Falo nessa altura também com duas pessoas ligadas à ETA militar, para
caso do atentado ser realizado através de armas de fogo.
Depois,
noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na Mansarda,
no último andar, onde jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente
e pela primeira vez, o que eu tinha de fazer, qual era a operação em curso e
que esta visava Adelino Amaro da Costa, que estava a dificultar o
transporte e venda de armas a partir de Portugal ou que passavam em
Portugal, e que havia luz verde dada por Henry Kissinger e Oliver North.
Cumprimento ambos, referindo que sou “o homem deles em Lisboa“.
Três semanas
antes dos atentado, Canto e Castro e Frank Surgies, referem pela primeira vez,
que o alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa. O Major Canto e Castro afirma que
irá viajar para Londres. Frank Sturgies pede-me que obtenha um cartão de
acesso ao aeroporto para um tal Lee Rodrigues, que é referido como sendo a
pessoa que levará e colocará a bomba no avião.
Recebo
depois um telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu ir ter lá
com ele. Refere-me que o meu bilhete está numa agência de viagens situada na
Av. da Republica , junto à pastelaria Ceuta. Chegado a Londres fico no Hotel
Grosvenor, ao pé de Victoria Station. Canto e Castro vai buscar-me e
leva-me a uma casa perto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o
material, incluindo explosivos, que servirão para confeccionar a “bomba” nesta
operação. Essa casa em Londres, era ao mesmo tempo residência e consultório de
um dentista indiano, amigo de Canto e Castro, Canto e Castro refere-me que esse
material será levado para Portugal pela sua companheira Juanita Valderrama. O
Major Canto e Castro pede-me, então, que vá ao Hotel Altis recolher o material.
Vou ao Hotel acompanhado de José Esteves, e recebemos uma mala e uma carta da
senhora Juanita. Com esses materiais, José Esteves prepara uma bomba destinada
a um avião, com a ajuda de Carlos Miranda.
O Major
Canto e Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe que a
bomba está montada. Lee Rodrigues é-me apresentado pelo Major Canto e Castro.
Alguns dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar no
restaurante Galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, onde
aparece também Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em Lisboa.
Fora Evo Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro. Lee Rodrigues
era moçambicano e tinha ligações à Renamo. Nesse jantar alinham-se pormenores
sobre o atentado. Canto e Castro refere contudo nesse jantar que o atentado
será realizado em Angola. Perante esta afirmação, pergunto se ele está a falar
a sério ou a brincar, e se me acha com “cara de palhaço”- fazendo tenção de me
levantar. Refiro que, através de Frank Carlucci, já estava a par de tudo. Lee
Rodrigues pede calma, referindo depois Canto e Castro que desconhecia que eu já
estava a par de tudo, mas que sendo assim nada mais havia a esconder.
Possivelmente
em Novembro, é-me solicitado por Philip Snell que participe numa reunião em
Cascais, num iate junto á antiga marina (na altura não existia a actual
marina). Vou e levo comigo José Esteves. Essa reunião tem lugar entre as 20 e
as 23 horas, nela participando Philips Snell, Oliver North, Frank Sturgies,
Sydral e Lee Rodrigues e mais cerca de 2 ou 3 estrangeiros, que julgo serem
americanos. Nesta reunião é referido que há que preparar com cuidado a operação
que será para breve, e falam-se de pormenores a ter em atenção. É referido
também os cuidados que devem ser realizados depois da operação, e o que fazer
se algo correr mal. A língua utilizada na reunião é o Inglés. José Esteves
recebeu então USD 200.000 pelo seu futuro trabalho. Eu não recebi nada pois já
era pago normalmente pela CIA. Eu nessa altura recebia da CIA o equivalente a
cinco mil dólares, dispondo também de dois cartões de crédito Diner’s Club e
Visa Gold, ambos com plafonds de 10.000 Doláres.
Lee
Rodrigues pede-me então que arranje um cartão para José Esteves entrar no
aeroporto.
Para este efeito, obtenho um cartão forjado, na mouraria, em Lisboa, numa tipografia que hoje já não existe. Lee rodrigues diz-me também que irá obter uma farda de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na Rua das Portas de Santo Antão. A meu pedido, João Pedro Dias, que era carteirista, arranja também um cartão para Lee Rodrigues. Este cartão foi obtido por João Pedro Dias, roubando o cartão de Miguel Wahnon, que era funcionário da TAP.
Apenas foi necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de Lee Rodrigues.
Para este efeito, obtenho um cartão forjado, na mouraria, em Lisboa, numa tipografia que hoje já não existe. Lee rodrigues diz-me também que irá obter uma farda de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na Rua das Portas de Santo Antão. A meu pedido, João Pedro Dias, que era carteirista, arranja também um cartão para Lee Rodrigues. Este cartão foi obtido por João Pedro Dias, roubando o cartão de Miguel Wahnon, que era funcionário da TAP.
Apenas foi necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de Lee Rodrigues.
José Esteves
prepara então em sua casa no Cacém, um engenho para o atentado. Conta com a
colaboração de outro operacional chamado Carlos Miranda, especialista em
explosivos, que é recrutado por mim, e que eu já conhecia de Angola, quando
Carlos Miranda era comandante da FNLA e depois CODECO em Portugal. José Esteves
foi também um dos principais comandantes da FNLA, indo muitas vezes a Kinshasa.
Depois do
artefacto estar pronto, vou novamente a Paris. No Hotel Ritz, à tarde, tenho um
encontro com Oliver North, o cor. Wilkison e Philip Snell, onde se refere que o
alvo a abater era Adelino Amaro da Costa, Ministro da Defesa.
Volto a
Portugal, cerca de 5 ou 6 dias antes do atentado. É marcado por Oliver North um
jantar no hotel Sheraton. Nesse jantar aparece e participa um indivíduo que
não conhecia e que me é apresentado por Oliver North , chamado Penaguião.
Penaguião afirma ser segurança pessoal de Sá Carneiro. Oliver North refere que
Penaguião faz parte da segurança pessoal de Sá Carneiro e que é o homem que
conseguirá meter Sá Carneiro no Avião. Penaguião afirma, de forma fria e
directa que Sá Carneiro também iria no avião, “pois dessa forma matavam dois
coelhos de uma cajadada! ” Afirma que a sua eliminação era necessária, uma vez
que Sá Carneiro era anti-americano, e apoiava
incondicionalmente Adelino Amaro da Costa na denúncia do tráfico de armas, e na descoberta do chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar, pelo que tudo estava, desde o início, preparado para incluir as duas pessoas. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Fico muito receoso, pois só nesse momento fiquei a conhecer a inclusão de Sá Carneiro no atentado. Pergunto a Penaguião como é que ele pode ter a certeza de que Sá Carneiro irá no avião, ao que Penaguião responde de que eu não me preocupasse pois que ele, com mais alguém, se encarregaria de colocar Sá Carneiro naquele avião naquele dia e naquela hora, pois ele coordenava a segurança e a sua palavra era sempre escutada. No final do jantar, juntam-se a nós três o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas.
incondicionalmente Adelino Amaro da Costa na denúncia do tráfico de armas, e na descoberta do chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar, pelo que tudo estava, desde o início, preparado para incluir as duas pessoas. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Fico muito receoso, pois só nesse momento fiquei a conhecer a inclusão de Sá Carneiro no atentado. Pergunto a Penaguião como é que ele pode ter a certeza de que Sá Carneiro irá no avião, ao que Penaguião responde de que eu não me preocupasse pois que ele, com mais alguém, se encarregaria de colocar Sá Carneiro naquele avião naquele dia e naquela hora, pois ele coordenava a segurança e a sua palavra era sempre escutada. No final do jantar, juntam-se a nós três o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas.
Fico
estarrecido com esta nova informação sobre Sá Carneiro, e decido ir, nessa
mesma noite, à residência do embaixador dos EUA, na Lapa, onde estava Frank
Carlucci, a quem conto o que ouvi. Frank Carlucci responde que não me
preocupasse, pois este plano já estava determinado há muito tempo. Disse-me que
o homem dos EUA era Mário Soares, e que Sá Carneiro, devido à sua maneira de
ser, teimoso e anti-americano, não servia os interesses estratégicos dos EUA.
Mário Soares seria o futuro apoio da política americana em Portugal, junto com
outros lideres do PSD e do PS. Aceito então esta situação, uma vez que Frank
Carlucci já me havia dito antes que tudo estava assegurado, inclusivamente se
algo corresse mal, como a minha saída de Portugal, a cobertura total para mim e
para mais alguém que eu indicasse, e que pudesse vir a estar em perigo. Isto é
a usual “realpolitik” dos Estados Unidos, e suspeito que sempre será.
Três dias
antes do atentado há uma nova reunião, na Rua das Pretas no Palácio Roquete,
onde participam Canto e Castro, Farinha Simões, Lee Rodrigues, José esteves e
Carlos Miranda. Carlos Miranda colaborou na montagem do engenho explosivo com
José Esteves, tendo ido várias vezes a casa de José esteves. Nessa reunião são
acertados os últimos pormenores do atentado. Nessa reunião, Lee Rodrigues diz
que ele está preparado para a operação e Canto e Castro diz que o atentado será
a 3 ou 4 de Dezembro. Nessa reunião é dito que o alvo é Adelino Amaro da Costa.
No dia seguinte encontramo-nos com Canto e Castro no Hotel Sheraton, e vamos
jantar ao restaurante “O Polícia”.
No dia 4 de
Dezembro, telefono de um telefone no Areeiro, para o Sr. William Hasselberg, na
Embaixada dos EUA, para confirmar que o atentado é para realizar, tendo-me este
referido que sim. Desse modo, à tarde, José Esteves traz uma mala a minha casa,
e vamos os dois para o aeroporto. Conduzo José esteves ao aeroporto, num BMW do
José Esteves.
Já no
aeroporto, José Esteves e eu entramos no aeroporto, por uma porta lateral,
junto a um posto da Guarda Fiscal, utilizando o cartão forjado, anteriormente
referido. Depois José Esteves desloca-se e entrega a mala, com o engenho, a Lee
Rodrigues, que aparece com uma farda de piloto e é também visto por mim. Depois
de cerca de 15 minutos, sai já sem a mala, e sai comigo do aeroporto.
Separamo-nos, mas mais tarde José esteves encontra-se novamente comigo no
cabeleireiro Bacta, no centro comercial Alvalade.
Depois José
esteves aparece em minha casa com a companheira da época, de nome Gina, e com
um saco de roupa para lá ficar por precaução. Ouvi-mos depois o noticiário das
20 horas na televisão, e José Esteves fica muito surpreendido, pois não sabia
que Sá Carneiro também ia no avião.
Afirma que
fomos enganados. Telefona então para Lencastre Bernardo, que tinha grandes
ligações à PJ e à PJ Militar, e uma Ligação ao General Eanes, Lencastre
Bernardo tem também ligações a Canto e Castro, Pezarat Correia, Charais, ao
empresário Zoio a José António Avelar que era ex-braço direito de Canto e
Castro. José Esteves telefona-lhe, e pede para se encontrar com ele. Este
aceita, pelo que, pelas 23 horas, José Esteves, eu, e a minha mulher Elza,
dirigimo-nos para a Rua Gomes Freire, na PJ, para falar com ele. José Esteves
sobe para falar com Lencastre Bernardo que lhe tinha dito que não se
preocupasse, pois nada lhe sucederia. Passámos contudo por casa de José Esteves
pois este temia que aí houvesse já um conjunto de polícias à sua procura,
devido a considerarem que ele estava associado à queda do avião em camarate.
José Esteves ficou assim aliviado por verificar que não existia aparato
policial à porta de sua casa. Vem contudo dormir para minha casa.
Alguns dias
depois falei novamente com Frank Carlucci. A quem manifestei o meu
desconhecimento e ter ficado chocado por ter sabido, depois de o avião ter
caído, que acompanhantes e familiares do Primeiro Ministro e do Ministro da
Defesa também tinham ido no Avião. Frank Carlucci respondeu-me que compreendia
a minha posição, mas que também ele desconhecia que iriam outras pessoas no
avião, mas que agora já nada se podia fazer.
Em 1981,
encontro-me com Victor Pereira, na altura agente da Polícia Judiciaria, no
restaurante Galeto, em Lisboa. Conto a Victor Pereira que alguns dos atentados
estão atribuídos às Brigadas Revolucionárias, relacionados com a colocação de
bombas, foram porém efectuadas pelo José Esteves, como foram os casos dos
atentados à bomba na Embaixada de Angola, de Cuba ( esta última com
conhecimento de Ramiro Moreira), na casa de Torres Couto, na casa do prof.
Diogo Freitas do Amaral, na casa do Eng. Lopes Cardoso, e na casa de Vasco
Montez, a pedido deste, junto ao Jumbo em Cascais, para obter sensacionalismo à
época, tendo José Esteves espalhado panfletos iguais aos da FP25. Não
falei então com Victor Pereira de camarate. Tomei conhecimento no entanto que
Victor Pereira, no dia 4 de Dezembro de 1980, tendo ido nessa noite ao
aeroporto da Portela, como agente da PJ, encontrou a mala que era transportada
pelo eng. Adelino Amaro da Costa. Nessa mala estavam documentos referentes ao
tráfico de armas e de pessoas envolvidas com o Fundo de defesa do Ultramar.
Salvo erro, Victor Pereira entregou essa mala ao inspector da PJ Pedro Amaral,
que por sua vez a entregou na PJ. Disse-me então Victor Pereira que essa mala,
de maior importância no caso de Camarate, pelas informações que continha, e que
podiam explicar os motivos e as pessoas por detrás deste atentado, nunca mais
voltou a aparecer. Esta informação foi-me transmitida por Victor Pereira, quando
esteve preso comigo na prisão de Sintra, em 1986. Não referi então a Victor
Pereira que, como descrevo a seguir, eu tinha já tido contacto com essa mala,
em finais de 1982, pelo facto de trabalhar com os serviços secretos na
Embaixada dos EUA.
Também em
1981, uns meses depois do atentado, eu e o José Esteves fomos ter com o Major
Lencastre Bernardo, na Polícia Judiciária, na Rua Gomes Freire. Com efeito,
tanto o José Esteves como eu, andávamos com medo do que nos podia suceder por
causa do nosso envolvimento no atentado de Camarate, e queríamos saber o que se
passava com a nossa protecção por causa de Camarate. Eu não participo na
reunião, fico à porta. Contudo José Esteves diz-me depois que nessa conversa
Lencastre Bernardo lhe referiu que, numa anterior conversa com Francisco Pinto
Balsemão, este lhe havia dito ter tido conhecimento prévio do atentado de
Camarate, pois em Outubro de 1980, Kissinger o informou de que essa
operação ia ocorrer. Disse-lhe também que ele próprio tinha tido
conhecimento prévio do atentado de Camarate. Disse-lhe ainda que podíamos estar
sossegados quanto a Camarate, pois não ia haver problemas connosco, pois a
investigação deste caso ia morrer sem consequências.
A este
respeito gostaria de acrescentar que numa reunião que tive, a sós, em 1986, com
Lencastre Bernardo, num restaurante ao pé do edifício da PJ na Rua Gomes
Freire, ele garantiu-me que Pinto Balsemão estava a par do que se ia passar em
4 de Dezembro. No restaurante Fouchet’s, em Paris, Kissinger tinha-me dito, “por
alto”, que o futuro Primeiro Ministro de Portugal seria pinto Balsemão.
É importante referir que tanto
Henry Kissinger como Pinto Balsemão eram já, em 1980, membros destacados do
grupo Bilderberg, sendo certo que estas duas pessoas levavam convidados às reuniões
anuais desta organização.
Deste modo, aquando da conversa com Lencastre
Bernardo, em 1986, relacionei o que ele me disse sobre Pinto Balsemão, com o
que tinha ouvido em Paris, em 1980. Tive também esta informação, mais tarde, em
1993, numa conversa que tive com William Hasselberg, em Lisboa, quando este me
confirmou de que Pinto Balsemão estava a par de tudo.
Em finais de
1982, pelas informações que vou obtendo na Embaixada dos EUA, em Lisboa,
verifico que se fala de nomes concretos de personalidades americanas com tendo
estado envolvidas em tráfico de armas que passava por Portugal. Pergunto então
a William Hasselberg como sabem destes nomes. Ao fim de muitas insistências
minhas, William Hasselberg acaba por me dizer que a Pj entregou, na embaixada dos
EUA, uma mala com os documentos transportados por Adelino Amaro da Costa, em 4
de Dezembro de 1980, e que ficou junto aos destroços do avião, embora não me
tenha dito quem foi a pessoa da PJ que entregou esses documentos. Peço então a
William Hasselberg que me deixe consultar essa mala, uma vez que faço também
parte da equipa da CIA em Portugal. Ele aceita, e pude assim consultar os
documentos aí existentes. que consistiam em cerca de 200 páginas. Pude assim
consultar este Dossier durante cerca de uma semana, tendo-o lido várias vezes,
e resumido, à mão, as principais partes, uma vez que não tinha como
fotografa-lo ou copia-lo.
Vejo então,
que apesar do desastre do avião, e da pasta de Avelino Amaro da Costa ter
ficado queimada, e ter sido substituida por outra, os documentos estavam
intactos. Estes documentos continham uma lista de compra de armas, que incluia
nomeadamente RPG-7, RPG-27, G3, lança granadas, dilagramas, munições, granadas,
minas, rádios, explosivos de plástico, fardas, kalashiskovs AK-47 e obuses.
Referia-se também nesses documentos que para se iludir as pistas, as vendas
ilegais de armas eram feitas através de empresas de fachada, com os caixotes a
referir que a carga se tratava de equipamentos técnicos, e peças sobresselentes
para maquinas agrículas e para a construção civil. Esta forma de transportar
armas foi-me confirmada várias vezes por Oliver North, no decorrer da década de
80, até 1988, e quando estive em Ilopango, no El Salvador, também na década de
80, verifiquei que era verdade.
Nestes
documentos lembro-me de ver que algumas armas vinham da empresa portuguesa
Braço de Prata, bem como referências de vendas de armas de Portugal e de países
de Leste, como a Polónia e a Bulgária, com destino para a Nicarágua, Irão, El
Salvador, Colombia, Panamá, bem como para alguns países Africanos que estavam
em guerra, como Angola, ANC da África do Sul, Nigéria, Mali, Zimbawe, Quénia,
Somália, Líbia, etc. Está também claramente referido nesses documentos que a
venda de armas é feita atraves da empresa criada em Portugal chamada
“Supermarket” (que operava através da empresa mãe “Black – Eagle”).
Nos
referidos documentos ví também que as vendas de armas eram legais através de
empresas portuguesas, mas também havia vendas de armas ilegais feitas por empresas
de fachada, com a lavagem de dinheiro em bancos suíços e “off-shores” em nome
dos detentores das contas, tanto pessoas civis como militares.
As vendas
ilegais de armas ocuriam por várias razões, nomeadamente: Em primeiro lugar
muitos dos paises de destino, tinham oficialmente sanções e embargos de armas.
Em segundo lugar os EUA não queriam oficialmente apoiar ou vender armas a
certos países, nomeadamente aos contra da Nicarágua, ou ao Irão e ao Iraque, a
quem vendiam armas ao mesmo tempo, e sem conhecimento de ambos. Em terceiro
lugar a venda de armas ilegal é mais rentável e foge aos impostos. Em quanto
lugar a venda de armas ilegal permite o branqueamento de capitais, que depois
podiam ser aproveitados para outros fins.
Entre os
nomes que vi referidos nestes documentos figuravam:
– José
Avelino Avelar
– Coronel Vinhas
– General Diogo Neto
– Major Canto e Castro
– Empresário Zoio
– General Pezarat Correia
– General Franco Charais
– General Costa Gomes
– Major Lencastre Bernardo
– Coronel Robocho Vaz
– Francisco Pinto Balsemão
– Coronel Vinhas
– General Diogo Neto
– Major Canto e Castro
– Empresário Zoio
– General Pezarat Correia
– General Franco Charais
– General Costa Gomes
– Major Lencastre Bernardo
– Coronel Robocho Vaz
– Francisco Pinto Balsemão
Francisco
Balsemão e Lencastre Bernardo eram referidos como elementos de ligação ao grupo
Bildeberg e a Henry Kissinger, Francisco Balsemão pertence também à loja
maçónica “Pilgrim”, que é anglo-saxónica, e dependente do grupo Bildeberg.
Lencastre Bernardo tinha também assinalada a sua ligação a alguns serviços de
inteligência, visto ele ser, nos anos 80, o coordenador na PJ e na Polícia
Judiciária Militar.
Entre as
empresas Portuguesas que realizavam as vendas de armas atrás referidas, entre
os anos 1974 e 1980, estavam referidas neste Dossier:
– Fundição
de Oeiras (morteiros, obuses e granadas)
– Cometna (engenhos explosivos e bombas)
– OGMA (Oficinas Gerais Militares de Fardamento e OGFE (Oficinas de Fardamento do Exercito)
– Browning Viana S.A.
– A. Paukner Lda, que existe desde 1966
– Explosivos da trafaria
– SPEL (Explosivos)
– INDEP (armamento ligeiro e monições)
– Montagrex Lda, que actuava desde 1977, com Canto e Castro e António José Avelar. Só foi contudo oficialmene constituida em 1984, deixando, nessa altura, Canto e Castro de fora, para não o comprometer com a operação de Camarate. A Montagrex Lda operava no Campo Poqueno, e era liderada por António Avelar que era o braço direito de Canto e Castro e também sócio dessa empresa. O escritório dessa empresa no Campo Pequeno é um autentico “bunker”, com portas blindadas, sensores, alarmes, códigos nas portas, etc.
– Cometna (engenhos explosivos e bombas)
– OGMA (Oficinas Gerais Militares de Fardamento e OGFE (Oficinas de Fardamento do Exercito)
– Browning Viana S.A.
– A. Paukner Lda, que existe desde 1966
– Explosivos da trafaria
– SPEL (Explosivos)
– INDEP (armamento ligeiro e monições)
– Montagrex Lda, que actuava desde 1977, com Canto e Castro e António José Avelar. Só foi contudo oficialmene constituida em 1984, deixando, nessa altura, Canto e Castro de fora, para não o comprometer com a operação de Camarate. A Montagrex Lda operava no Campo Poqueno, e era liderada por António Avelar que era o braço direito de Canto e Castro e também sócio dessa empresa. O escritório dessa empresa no Campo Pequeno é um autentico “bunker”, com portas blindadas, sensores, alarmes, códigos nas portas, etc.
Canto e
Castro e António Avelar são também sócios da empresa inglesa BAE – Systems,
sediada no Reino Unido. Esta empresa vede sistemas de defesa, artilharia,
mísseis, munições, armas submarinas, minas e sobretudo sistemas de defesa
anti-mísseis para barcos.
Todos estes
negócios eram feitos, na sua maior parte, por ajuste directo, através de
brokers – intermediarios, que recebiam as suas comissões, pagas por oficiais do
Exército, Marinha, Aeronáutica, etc.
Nestes
documentos era referido que, como consequência desta vendas de armas, gerava-se
um fluxo considerável de dinheiro, a partir destas exportações, legais e ilegais.
Estes documentos referiam também a quem eram vendidas estas armas, sobretudo a
países em guerra, ou ligados ao terrorismo internacional. Era também referido
que todas estas vendas de armas eram feitas com a conivência da autoridade da
época, nomeadamente militares como o General Costa Gomes, o General Rosa
Coutinho (venda de armas a Angola) e o próprio Major Otelo Saraiva de Carvalho
( venda de armas a Moçambique). Vi várias vezes o nome de Rosa Coutinho nestes
documentos, que nas vendas de armas para Angola utilizava como intermediário o
general reformado angolano, José Pedro Castro, bastante ligado ao MPLA, que
hoje dispõe de uma fortuna avaliada em mais de 500 milhões de USD, e que
dividia o seu tempo entre Angola, Portugal e Paris. O seu filho, Bruno Castro é
director adjunto do Banco BIC em Angola.
No referido
dossier estavam também referidos outros militares envolvidos neste negócio de
armas, nomeadamente o Capitão Dinis de Almeida, o Coronel Corvacho, o Vera
Gomes e Carlos Fabião.
Todas estas
pessoas obtinham lucros fabulosos com estes negócios, muitas vezes mesmo antes
do 25 de Abril de 1974 e até 1980. Era referido que estas pessoas, nomeadamente
militares, que ajudavam nesta venda de armas, beneficiavam através de comissões
que recebiam. Estavam referidos neste Dossier os nomes de “off-shores”, que
eram usadas para pagar comissões às pessoas atrás referidas e a outros
estrangeiros, por Oliver North ou por outros enviados da CIA. Estas
“off-shores” detinham contas bancárias, sempre numeradas.
Esta referência
batia certo com o que Oliver North sempre me contou, de que o negócio das armas
se proporciona através de “off-shores” e bancos controlados para a lavagem de
dinheiro.
Vale a pena
a este respeito referir que no negócio das armas, empresas do sector das obras
públicas aparecem frequentemente associadas, como a Haliburton, a Carlyle, ou a
Blackwater, (empresa de armas, construção e mercenários), entre outras. Esta
relação está referida, há anos, em vários relatórios, nomeadamente nos
relatórios do Bribe Payer Index (indice internacional dos pagadores de
subornos), que é uma agencia americana. A indicação deste tipo de práticas foi
desenvolvida mais tarde, pela Transparency International e pelo Comité Norte
Americanos de Coordenação e Promoção do Comercio do Senado Americano, que
referem que há muitos anos , mais de 50% do negócio e comercio de armas em
Portugal, é feito através de subornos. Os americanos sempre usaram Portugal
para o tráfico de armas, fazendo também funcionar a Base das Lajes, nos Açores,
para este efeito, nomeadamente depois de 1973, aquando da guerra do Yom Kippur,
entre Israel e os países árabes. Este tráfico de armas deu origem a várias
contrapartidas financeiras, nomeadamente através da FLAD, que foi usada pela
CIA para este efeito. A FLAD recebeu diversos fundos específicos para a
requalificação de recursos humanos.
Não ví
contudo neste Dossier observações referindo referindo que estas vendas de armas
eram condenáveis ou que tinham efeitos negativos. Havia contudo uma pequena
nota, em que algumas folhas de que se devia tomar cuidade com tudo o que aí
estava escrito, e que portanto se devia actuar. Havia também na primeira página
um carimbo que dizia “confidentical and restricted”.
Estas vendas
de armas continuaram contudo depois de 1980. Tanto quanto eu sei, estas vendas
de armas continuaram a ser realizadas até 2004, embora com um abrandamento
importante a partir de 1984, a partir do escandalo das fardas vendidas à
Polónia.
No referido
Dossier estavam também referidas personalidades americanas envolvidas no
negócio de armas, nomeadamente Bush (Pai), dick Cheney, Frank Carlucci, Donald
Gregg, vários militares, bem como a empresas como a Blackwater. são ainda
referidas empresas ligadas aos EUA, como a Carlyle, Haliburton, Black Eagle
Enterprise, etc, que estavam a usar Portugal para os seus fins, tanto pela
passagem de armas através de portos portugueses, como pelo fornecimento de
armas a partir de empresas portuguesas. Tirei apontamentos desses documentos,
que ainda hoje tenho em meu poder.
A empresa
atrás referida, denominada supermarket, foi criada em Portugal em 1978, e
operava através da empresa mão, de nome Black-Eagle, dirigida por William
Casey, (membro do CFR(counceil for Foreign Affairs and Relations),
ex-embaixador dos EUA nas Honduras e também com ligações à CIA). A empresa
supermarker organizava a compra de armas de fabrico soviético, através de
Portugal, bem como a compra de armas e munições portuguesas, referidas anteriormente,
com toda a cumplicidade de Oliver North. Estas armas iam para entrepostos nas
Honduras, antes de serem enviadas para os seus destinos finais. Oliver North
pagou muitas facturas destas compras em Portugal, através de uma empresa
chamada Gretsh World, que servia de fachada à Supermarket. Mais tarde, cerca de
1985, quando se começou muito a falar de camarate, Oliver North cancelou a
operação “Supermarket, e fechou todas as contas bancárias.
Devo ainda
referir que William Hasselberg e outros americanos da embaixada dos EUA, em
Lisboa, comentaram comigo, várias vezes o que estava escrito neste Dossier.
Relativamente a Hasselberg isso era lógico, pois foi ele que me deu o Dossier a ler.
Posteriormente comentei também o que estava escrito neste Dossier com Frank Carlucci, que obviamente já tinha conhecimento da informação nele contida.
Relativamente a Hasselberg isso era lógico, pois foi ele que me deu o Dossier a ler.
Posteriormente comentei também o que estava escrito neste Dossier com Frank Carlucci, que obviamente já tinha conhecimento da informação nele contida.
Tanto
William Hasselberg, como membro da CIA, como outros elementos da CIA atrás
referidos e outros, comentaram várias vezes comigo o envolvimento da CIA na
operação de Camarate e neste negócio de armas. Lembro-me nomeadamente que
quando alguém da CIA, me apresentava a outro elemento da Cia, dizia
frequentemente “this is the portuguese guy, the one from Camarate, the case in
Portugal with the plane!”.
As vendas de
armas, a partir e através de Portugal, foram realizadas ao longo desses anos,
pois era do interesse politico dos EUA. A CIA organizou e implementou estas
vendas de armas em Portugal, à semelhança do que sucedeu noutros países, pois
era crucial para os EUA que certas armas chegassem aos países referidos, de
forma não oficial, tendo para isso utilizados militares e empresários
Portugueses, que acabaram também por beneficiar dessas vendas.
Como
anteriormente referi, William Casei e Oliver North estavam, nas décadas de 70 e
80 conluiados com o presidente Manuel Noriega, no escândalo Irão – contras
(Irangate). Foi sempre Oliver North que se ocupou da questão dos
refénsamericanos no Irão, bem como da situação da América Central. Recebeu
pessoalmente por isso uma carta de agradecimentos de George Bush Pai, Vice
Presidente à época de Ronald Reagan.
Devo dizer a
este respeito que John Bush, filho de Bush Pai, então com 35 anos, a viver na
Flórida, pertencia em 1979 e 1980 ao “Condado de Dade”, que era e é uma
organização republicana, situada em South Florida, destinada a angariar fundos
para as campanhas eleitorais republicanas. John Bush era um dos
organizadores de apoios financeiros para os “contra” da Nicarágua.
Conheci
também Monzer Al Kasser um grande traficante de armas que tinha uma casa em
Puerto Banus em Marbella, e que me foi apresentado, em Paris, por Oliver North,
em 1979.
Era um dos grandes vendedores de armas para os “Contra” na Nicarágua, trabalhando simultaneamente para os serviços secretos sírios, búlgaros e polacos. Na sua casa em Marbella, referiu-me também que, por vezes, o tráfico de armas era feito através de África, para que no Iraque não se apercebessem da sua proveniência, pois também vendiam ao mesmo tempo ao Irão e mesmoa Portugal. Este tráfico de armas, que estava em curso, desde há vários anos, em 1980, e o começo do caso Camarate.
Era um dos grandes vendedores de armas para os “Contra” na Nicarágua, trabalhando simultaneamente para os serviços secretos sírios, búlgaros e polacos. Na sua casa em Marbella, referiu-me também que, por vezes, o tráfico de armas era feito através de África, para que no Iraque não se apercebessem da sua proveniência, pois também vendiam ao mesmo tempo ao Irão e mesmoa Portugal. Este tráfico de armas, que estava em curso, desde há vários anos, em 1980, e o começo do caso Camarate.
Através de
Al Kasser conheci, em Marbella, no final de 1981, outro famoso traficante de
armas, numa festa em casa de Monzer, que se chamava Adrian Kashogi. Kashogi,
como pude testemunhar em sua casa, tinha relações com políticos e empresários
europeus, árabes e africanos, por regra ligados ao tráfico de armas e drogas.
Sou preso em
1986, acusado de tráfico de drogas. Esta prisão foi uma armadilha montada pela
DEA, por elementos que nessa organização não gostavam de mim, por eu ter levado
à detenção de alguns deles, como referi anteriormente. Fui então levado para a
prisão de Sintra. Estou na prisão com o Victor Pereira,, que aí também estava preso.
Sei, em 1986, que estavam a preparar para me eliminar na prisão, pelo que peço
à minha mulher Elza, para ir falar, logo que possível com Frank Carlucci. Em
consequência disso recebo na prisão a visita de um agente da CIA, chamado
Carlston, juntamente com outro americano. estes, depois de terem corrompido a
direcção da prisão, incluindo o director, sub-director e chefe da guarda, bem
como um elemento que se reformou muito recentemente, da Direcção Geral dos
serviços Prisionais, chamada Maria José de Matos, conseguem a minha fuga da
prisão. Contribuiu ainda para esta minha fuga, mediante o recebimento de uma
verba elevada, paga pelos referidos agentes americanos, esta directora-adjunta
da Direcção Geral dos serviços Prisionais. Estes agentes americanos obtêm depois
um helicóptero, que me transporta para a Lousã, onde fico cerca de 20 dias. Vou
depois para Madrid, com a ajuda dos americanos, e depois daí ara o Brasil. as
despesas com a minha fuga da prisão custaram 25000 euros, o que na época era
uma quantia elevada.
Só mais
tarde no Brasil, depois de 1986, é que referi a José Esteves que sabia que Sá
Carneiro ia no avião, contando-lhe a história toda. José Esteves, responde
então, que nesse caso, tínhamos corrido um grande risco. Eu tranquilizei-o,
referindo que sempre o apoiei e protegi neste atentado. Dei-lhe apoio no Brasil
no que pude. Assegurei-lhe também o transporte para o Brasil, obtendo-lhe um
passaporte no Governo Civil de lisboa, entreguei-lhe 750 contos que me foram
dados para esse efeito pela embaixada dos EUA, em Lisboa, e arranjei-lhe o
bilhete de avião de Madrid para o Rio de Janeiro . Na viagem de Lisboa para
Madrid, José Esteves foi levado por Victor Moura, um amigo comum. No Rio de
Janeiro ajudei-o a montar uma loja, numa roulote. Como trabalhava ainda para a
embaixada dos EUA, em Lisboa, estas despesas foram suportadas pela Embaixada.
Ficou no Brasil cerca de dois anos. Eu, contudo andava constantemente em
viagem.
José Esteves
recebe depois um telefonema de Francisco Pessoa de Portugal, onde Francisco
Pessoa o aconselha a voltar a Portugal, e a pedir protecção, a troco de ir
depor na Comissão de Inquérito Parlamentar sobre Camarate. Esse telefonema foi
gravado, mas José Esteves nunca chegou a obter uma protecção formal.
Telefono a
Frank Carlucci, em 1987, pedindo-lhe para falar com ele pessoalmente. Ele
aceita, pelo que viajo do Brasil, via Miami, para Washington. Pergunto-lhe
então, em face do que se tinha falado de Camarate, qual seria a minha situação,
se corria perigo por causa de Camarate, e se continuarei, ou não a trabalhar
para a CIA. Frank Carlucci responde-me que sim, que continuarei a trabalhar
para a CIA, tendo efectivamente continuado a ser pago pela CIA até 1989. Frank
Carlucci confirma nessa reunião que puderam contar com a colaboração de
Penaguião na operação de Camarate, e que ele, Frank Carlucci, esteve a par
dessa participação.
Em 1994,
foi-me novamente montada uma armadilha em Portugal, por agentes da DEA que não
gostavam de mim, por causa da referida prisão de agentes seus, denunciados por
mim. Nesta armadilha participam também três agentes da DCITE – Portuguesa, os
hoje inspectores Tomé, Sintra e Teófilo Santiago. Depois desta detenção, recebo
a visita na prisão de Caxias de dois procuradores do Ministério Público, um
deles, se não estou em erro, chamado Femando Ventura, enviados por Cunha
Rodrigues, então Procurador Geral da República. Estes procuradores referem-me
que me podem ajudar no processo de droga de que sou acusado, desde que eu me
mantenha calado sobre o caso Camarate.
Por ser
verdade. e por entender que chegou o momento de contar todo o meu envolvimento
na operação de Camarate, em 4 de Dezembro de 1980, decidi realizar a presente
Declaração, por livre vontade. Não podendo já alterar a minha participação
nesta operação, que na altura estava longe de poder imaginar as trágicas
consequências que teria para os familiares das vítimas e para o país, pude
agora, ao menos, contar toda a verdade, para que fique para a História e para
que, nomeadamente os portugueses, possam dela ter pleno conhecimento.
Não quero,
por último, deixar de agradecer à minha mãe, à minha mulher Elza Simões, que ao
longo destes mais de 35 anos, tanto nos bons como nos maus momentos, sempre
esteve a meu lado, suportando de forma extraordinária, todas as dificuldades,
ausências, e faltas de dedicação à família que a minha profissão implicava. Só
uma grande mulher e um grande amor a mim tornaram possível este comportamento.
Quero também agradecer à minha filha Eliana, que sempre soube aceitar as
consequências que para si representavam a minha vida profissional, nunca tendo
deixado de ser carinhosa comigo. Finalmente quero agradecer à minha mão que, ao
longo de toda a minha vida me acarinhou e encorajou, apesar de nem sempre
concordar com as minhas opções de vida. A natureza da sua ajuda e apoio,
tiveram para mim uma importância excepcional, sem, as quais não teria
conseguido prosseguir, em muitos momentos da minha vida. Posso assim afirmar
que tive sempre o apoio de uma família excepcional, que foi para mim decisiva
nos bons e maus momentos da minha vida.
Lisboa, 26
de Março de 2012
Fernando Farinha Simões
B.I. n.º 7540306
Fernando Farinha Simões
B.I. n.º 7540306
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